Um pequeno desabafo

Recebi uma mensagem em um grupo do Facebook onde leio e escrevo regularmente. Um aluno meu pediu minha opinião sobre uma carta escrita pela senhora Martha de Freitas Azevedo Pannunzio à presidente da República. Aí vai a opinião. Resumi o quanto pude.

Fernando, não se sinta alienado por não ter tomado conhecimento do tal programa Brasil Carinhoso. Esse programa, a exemplo de muitos outros criados pelo governo do PT e pelos anteriores, é mais um exemplo da esmola que os governantes jogam ao povo brasileiro de vez em quando para que a massa iludida tenha a impressão de que estão realmente fazendo alguma coisa pela população.

Os reais problemas brasileiros não são atacados – e não serão, simplesmente porque não interessa à classe política. Siglas, esquerdas, direitas, centros, são todos iguais, todos farinha do mesmo saco podre, aventureiros e oportunistas que se organizam em verdadeiras quadrilhas de tempos em tempos, ao sabor do vento, para o lado que o poder for.

A nós, que temos um pouco mais de condição – pelo sacrifício de nossos pais e avós – e por continuarmos acreditando que trabalhar e estudar são as saídas, cabe financiar essa palhaçada toda, esse descalabro que vemos todos os dias, financiar a falta de segurança que assola o país inteiro, os ministérios e secretarias criados (agora vem o da Micro e Pequena Empresa, como se isso fosse resolver algo mais além de arrumar uns belos empregos para os amigos e torrar o nosso suado dinheirinho em uma estrutura estatal podre e corrupta, criada e mantida pela ineficiência, pela má vontade e pelo único objetivo de manter a si mesmo, não o de trabalhar pelo cidadão).

A alienação maior não é desconhecer o Brasil Carinhoso, mas achar que essa corja que aí está vai resolver alguma coisa com esses programas criados por marqueteiros da pior espécie, mestres na prestidigitação da massa. E não importa se a camarilha for substituída pelos opositores na próxima eleição – que no fim das contas não temos certeza se é manipulada, já que todo o processo eleitoral é uma bela de uma caixa preta depois da implantação das urnas eletrônicas. E mesmo que os processos eleitorais sejam conduzidos por vestais, isso não importa já que o resto da máquina está podre, corrupta até os ossos, mais gorda e nojenta que Jabba the Hutt. Seja quem for o presidente (ou a presidente, dane-se), haverá sempre um corrupto FDP em uma repartição pública qualquer.

Profissionais da saúde, da educação e da segurança pública são tratados com escárnio pelo poder público e mesmo pela população, que realmente não os valoriza. Se valorizassem, não elegeriam esses que ano após ano praticam suas maldades, suas diatribes nas casas legislativas do Brasil inteiro. Mas o BBB é mais importante, o lek-lek, ou para quem a tal vagabunda capa de revista deu o rabo, ou a Copa do Mundo superfaturada (e a bosta do chocalho maldito que inventaram agora), ou as Olimpiadas (sem acento, pois trata-se de uma piada – de péssimo gosto).

Policiais trabalham todos os dias arriscando suas vidas a troco de um salário de merda e, ou vão para o bico ou para a corrupção. São reféns da bandidagem e estão sob a lupa da opinião pública pois, se derem um piparote num vagabundo qualquer, já aparecem os defensores dos direitos humanos. Só não me explicaram ainda onde estão os direitos humanos da dentista que morreu queimada por causa de R$ 30. Se prendem, a justiça logo solta pois a legislação é uma peça de museu. Se a justiça não solta, o sistema prisional é pior que masmorras medievais e o cara vai sair pior do que estava quando entrou pois fez a universidade do crime. Os presídios deveriam ser transformados em colônias penais. Férias? Faça-me rir. Vai trabalhar para cultivar seu alimento, para receber seu uniforme, para pagar a estadia, para aprender algo, trabalhar pesado 10-12 horas por dia. Cabeça vazia é morada do capeta.

Do pessoal da saúde dá pena. Agora a nova idiotice do governo federal é trazer os médicos cubanos – finalmente deram um jeito de arrumar trabalho para os companheiros – para trabalhar nos buracos onde os médicos formados nas nossas universidades públicas não querem ir, pois afinal estão ganhando os tubos nos consultórios e clínicas abertas pelos papais (curioso que médicos formados com o uso de recursos públicos não tenham de retribuir para a sociedade trabalhando no setor público durante o mesmo tempo de sua formação). Vão enfiar os cubanos na casa do caralho para atender os mais carentes, só que os médicos que ainda acreditam em trabalhar nos hospitais públicos das grandes cidades sofrem com falta de materiais, falta de pessoal, instalações mal conservadas, falta de equipamentos, gestores mal preparados ou mal intencionados. Os cubanos vão suturar os ferimentos com o que, com o pelo do saco?

Já virou lugar comum falar sobre como os professores são mal tratados. Mas não são somente os professores, é o sistema educacional como um todo. Não interessa se público ou particular. A educação básica é uma grande falácia, uma despreparação de mentes cada vez mais direcionadas para decorar fatos inúteis, a não entender os porquês que movem o mundo e sim decorar as fórmulas para o vestibular (ou para o ENEM, que está tomando o lugar do vestibular aos poucos). Ridículo como as crianças das primeiras séries em escolas particulares estão sendo submetidas aos “sistemas de ensino”, criados pelos empresários dos cursos pré-vestibulares e que tornam a educação básica cada vez mais um show de horrores, um verdadeiro vomitório do conhecimento. É claro que existem exceções, mas são ilhas bem pequenas isoladas num mar de mediocridade. E tem pais que adoram ver os filhos do primeiro, do segundo ano, estudando com as apostilas que parecem as dos “cursinhos”.

No setor público, então, nem se fala. Os professores mal preparados nas cada vez piores escolas de licenciatura (tem aluno de Letras escrevendo “iço”) vão lecionar no Estado, na Prefeitura, pois não passam na peneira da iniciativa privada. Chegam nas escolas públicas mal equipadas, desestruturadas, que recebem alunos com problemas estruturais, sejam familiares ou até nutricionais e até que tentam fazer o seu trabalho. Como percebem rapidamente que não vão conseguir e que os alunos não conseguem nem entender os motivos de estarem na escola, já que o jogador de futebol X (que nem estudou direito) recebe por mês uma quantia que aquele molequinho nunca verá em sua vida inteira, que um bando de vagabundas ganham uma bela grana rebolando e “cantando” músicas de qualidade mais do que duvidosa, a escola acaba mergulhando na mediocridade, o absenteísmo entre os professores cresce estupidamente e, a pretexto de mostrar números, as escolas são levadas a aplicar a chamada “aprovação automática” (e não é só em SP como querem fazer crer os opositores do PSDB – prestem atenção: se o governo for do PT, do PSDB ou do PQP, as legiões de analfabetos funcionais continuarão sendo formadas). Não vou nem falar em disciplina no ambiente escolar para não ter mais desgosto, mas sabemos que o desrespeito virou padrão nas escolas, sejam públicas ou privadas.

A despeito de certos exageros e expressões que a Dona Martha Pannunzio escreveu, ela está certa em boa parte de sua carta. Não é “papo de direita” ou de “reacionários”. É a opinião de alguém que viveu muito, que ouviu ano após ano que o Brasil é o país do futuro, que trabalhou (e continua trabalhando) e que não está percebendo onde tudo isso vai parar. Que continua sendo obrigada a financiar essa bandalheira toda e está cansada disso. E olha que o que sabemos, diante do que realmente deve ocorrer, não é nem a ponta do iceberg. E se sabemos algo é porque a imprensa ainda não foi controlada, como muitos acham que deve ser. Por mais “golpista” que ela possa parecer, por mais concentrada nas mãos de poucos que ela possa estar, é graças a ela que sabemos um pouco do que acontece.

E quem não está contente com a mídia atual crie seu veículo de comunicação. É rápido e barato nesses tempos de Internet. Faça a informação real chegar no seu público. Não dependa de Folhas de São Paulo, Estadões, Vejas, Cartas Capitais, Caros Amigos, O Globo e o que mais você abomine. Faça a sua rádio, a sua emissora de tv, o seu noticiário impresso.

Em tempo: as Bolsas Família e quetais tornam sim a população desinteressada. Não seja um inocente útil ao pensar que todo mundo adora trabalhar como você. Está cheio sim de famílias que crescem para receber mais bolsa, está cheio de municípios brasileiros que deixaram de produzir por conta dos auxílios do governo federal, está cheio de pais e mães que só comparecem às reuniões de escola se a listagem do Bolsa Família estiver lá para assinarem a presença e continuar recebendo o benefício. Está sendo criada, bem aos poucos, uma nação de encostados. Ao invés de se ensinar a pescar, estão investindo em dar o peixe e deixar a população refém da quadrilha atualmente no poder. As ameaças de suspensão ou cancelamento dos benefícios aparecem a cada ciclo eleitoral. Dizem que se “eles” ganharem a eleição, o Bolsa Família vai acabar. E enquanto isso os estrangeiros começam a invadir o Brasil atrás dos empregos que deveriam poder ser ocupados pela nossa população, se houvesse o real interesse em capacitar as pessoas para enfrentar os desafios cada vez mais presentes do mundo do trabalho. Só que isso não dá voto e estudar dá trabalho. Não é fácil.

Há miseráveis no Brasil? Que se resolva a situação emergencialmente e se dê reais condições dessas famílias saírem dessa condição, de progredirem por suas próprias pernas, não de ficarem encostados, ou deitados, eternamente em berço esplêndido. Berço esplêndido o cacete. Estudo e trabalho para todos. O trabalho dignifica o homem.

Um comentário em “Um pequeno desabafo

  1. De fato, caro professor, sem sombra de dúvidas a corrupção é um dos problemas mais críticos de nossa sociedade. O pior é que muitos de nós adoramos criticar a qualidade dos serviços prestados, principalmente quando esses estão sob os holofotes de um Fantástico, porém nos esquecemos que muitas vezes ela se apresenta de forma sutil, e mal a notamos. Pior ainda é quando ela é visível a todos, mas por preguiça, comodismo ou medo, “olhamos” para o outro lado, fingimos que não há nada errado quando é obvio que algo não está funcionando da forma como deveria.
    Falar mal do PROUNI, dizer que é uma forma de manter instituições de péssima qualidade abertas e alimentá-las com dinheiro público é fácil. Fácil e mentiroso. Gostaria de citar aqui o caro professor Cabrini, que ministra a grade de Redes na nossa instituição, além de um ótimo professor, ele é uma pessoa apta a falar um pouco sobre o tema, para os que não sabem, além de professor ele presta serviços ao MEC, como avaliador de ensino de instituições Brasil a fora. Sim meus caros, isso existe, PROUNI não é maquina de “dar” dinheiro pra instituições de ensino (não) superior. Para participar do PROUNI as Instituições têm que manter um padrão mínimo de ensino, caso contrário não só são descredenciados desse e de outros projetos, como também tem seus cursos invalidados pelo MEC.
    Aos que gostam de mal dizer projetos do governo como PROUNI, Bolsa Família… Hospitais, escolas, entre outros serviços públicos, vai a minha pergunta:
    Qual foi a última vez que você viu algo acontecendo de forma incorreta no âmbito público e tomou alguma ação para mudar isso? (Reclamar no face não vale como ação rsrs)

    Para nós membros da FATEC, as coisas são ainda mais claras…
    Todos nós sabemos que existem problemas na instituição. Sabemos também quais são os problemas.
    Vamos refletir um pouco. Todos os profissionais cumprem seus horários. Os professores se especializam? Qual a forma que o estado tem para garantir a reciclagem ou talvez seja mais correto dizer a modernização do conhecimento dos professores? Quantos de nós sabemos qual é a ementa dos nossos cursos? Essa ementa tem sido cumprida?
    Gostaria de esclarecer que não se trata aqui de uma critica ao estado ou a instituição. Mas sim um convite a reflexão individual de cada um de nós… Cada um de nós, alunos, professores membros da coordenação e direção, ex-alunos. Todos fazemos parte de alguma forma disso e cabe a cada um de nós mantermos e elevarmos o nível de qualidade da instituição de que participamos, fazendo com que ela seja um Centro de Ensino (cada vez mais) Superior.
    Falemos agora dos Bolsas…
    Uma grande massa principalmente nas regiões mais afastadas depende sim dessa contribuição para viver. Produzem vários filhos, mas diferente do que pregam uns e outros por ai, não se trata de forma de ganhar a vida nas custas do governo. Para famílias que vivem de agricultura familiar, que não são poucos, filho é quase um investimento, pois são os filhos que vão ajudar a tocar a roça quando atingirem a vida adulta. E o bolsa família é sim uma forma de garantir que essas crianças não deixem a escola para ir ajudar na lavoura.

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