Algumas questões sobre a construção de uma sociedade mais justa

Um amigo publicou no Facebook um post sobre o assunto. Tomo a liberdade de reproduzir o texto aqui e colocar minha resposta a seguir, pois o Facebook é um ótimo lugar para você publicar textos e os mesmos irem para alguma espécie de buraco negro. Desde já aviso ao meu amigo que, se ele quiser, posso remover seu texto daqui.

O texto do meu amigo é esse:

Diga-me: o combate ao crime passa pela inclusão social ou pela redução da maioridade penal? Vc prefere morar em casas com jardins abertos ou em fortalezas super seguras? Vc acha que o ensino de qualidade deve ser privilégio de todos? Ou prefere gastar mundos e fundos pros seus filhos estudarem? Vc prefere uma saúde universalizada ou pagar planos exorbitantes? Vc curte ciclovias ou joga tachinhas? Suja o chão público ou curte uma lixeira reciclável? Acho que a construção de uma sociedade mais justa passa por questões como estas, e vc?

Minhas considerações seguem:

O combate ao crime, hoje, passa pela inclusão social e pela redução da maioridade penal. Infelizmente estamos em tempos duros. E tempos duros exigem medidas duras. Deve-se reduzir a maioridade penal e conforme a inclusão social for trazendo resultados pode-se pensar em voltar a maioridade penal para 18 anos. Não dá para esperar essa inclusão dar certo. Há uma questão emergencial para ser tratada e a população está sendo deixada à própria sorte. Na verdade eu penso que não deveria haver maioridade penal. Há (muitos) menores de idade que entendem perfeitamente a natureza de seus atos e podem ser responsabilizados como adultos, a exemplo do que se faz em outros países.

Quanto a morar em casas com jardins abertos ou em fortalezas, é a mesma coisa do parágrafo acima. Hoje o trabalhador precisa viver atrás das grades enquanto o bandido circula livremente. Quem sabe, quando a criminalidade for combatida de forma que o potencial criminoso pense duas ou mais vezes antes de cometer o crime, possamos derrubar os muros e viver como meus pais viveram em São Paulo, quando o bairro onde eu morava tinha as casas com jardins na frente e nem uma cerquinha para separar as casas. Sonho meu…sonho meu…

O ensino de qualidade precisa ser privilégio de todos e isso poderia começar a ser resolvido se os filhos dos políticos fossem obrigados a estudar nas escolas públicas, as mesmas que os filhos dos trabalhadores que não têm condições de pagar frequentam. E mesmo quem paga, hoje o faz com muitos sacrifícios. Escola particular não é coisa de rico hoje em dia. É coisa de quem quer oferecer um mínimo de educação com qualidade para seus filhos.

Sobre o acesso aos serviços de saúde, digo o mesmo do parágrafo acima. Tinham de usar o SUS, o mesmo que aquele que não tem condições de pagar usa. E quem paga é mal atendido do mesmo jeito. Basta acompanhar minimamente o noticiário para ver.

Ciclovias são uma boa ideia, mas o transporte coletivo (ônibus, metrô, aerotrem etc.) precisa ser muito melhor em qualidade e em quantidade do que o atualmente disponível.

Reciclagem e reutilização são conceitos que não apenas precisam ser ensinados nas escolas, como precisam ser praticados pela população. Em relação à coleta seletiva, estamos anos-luz atrás do mínimo necessário. A (falta de) educação de muitas pessoas é impressionante. Além disso, o brasileiro foi acostumado a pensar que o Brasil é um país de recursos naturais infinitos e isso contribui para a cultura do desperdício. Às vezes eu penso que faltou ao Brasil ter tido uma guerra daquelas bem fudidas, com bombardeios etc. Quem sabe assim a população daria um pouco mais de valor aos recursos do Brasil?

É isso. Espero ter contribuído para a discussão. Quem quiser comentar fique à vontade.

Impostos, ciclovias e outras coisas

Li hoje no Facebook um texto publicado por um profissional muito respeitado e que, além disso, mostra uma preocupação genuína com o Brasil e o atual estado das coisas. Se mais pessoas se preocupassem, possivelmente a situação brasileira seria outra.

Tomo a liberdade de reproduzir o texto e tecer algumas considerações a respeito.

(atualização de 11/09/2014 – 14h: o autor do texto no FB pediu que eu o removesse daqui pois, segundo ele, não teria como dar réplica aos comentários feitos nele e isso não seria justo – esclareço que a opção de comentar aqui no blog está ativada mas, respeitando a solicitação do autor procedi à remoção – ressalto ainda que eu o avisei no FB que havia colocado minha resposta aqui e dei-lhe a opção de pedir que o texto fosse removido se ele julgasse necessário)

Em seguida, minha opinião:

O princípio básico, que não é respeitado, é que o poder público deveria existir para servir ao povo. Se não for isso, qual é a função do Estado brasileiro?

Os impostos que pagamos por termos delegado ao Estado a responsabilidade de manter o Brasil funcionando servem para que todos, independentemente de sua condição sócio-econômica, tenham acesso a serviços decentes de Saúde, Educação, Segurança, Transporte, Habitação, Saneamento básico e o que mais for considerado necessidade primária. Se a pessoa quer ou não usar o serviço público ela deve ter a opção de usar o da iniciativa privada. Isso é tratar a população de forma igualitária.

O que ocorre no Brasil é que quem não pode pagar tem acesso a serviços de péssima ou má qualidade e quem tem um pouco mais de condições (não estou falando dos ricos) se mata para ter de pagar por algo que deveria ser provido pelo poder público, ou seja, tem de pagar duas vezes. E mesmo alguns serviços privados são de má qualidade.

Está sendo pregada há alguns anos (e a doutrinação tem dado resultado) a noção de que existem duas classes de cidadãos: aqueles que podem pagar e aqueles que não podem. Os primeiros teriam de financiar os outros. Isso está errado! Não é a população de classe mais baixa que de fato precisa. Eu preciso, você precisa, todos precisamos. Essa é a questão central.

Adoraria poder confiar no serviço público de Saúde. Sei, por conhecer quem precisou e se deu mal – além dos exemplos que são noticiados todos os dias e que relatam situações pelas quais justamente “quem precisa” (na sua concepção) passa, que não podemos confiar na estrutura provida pelo poder público. Note que não estou falando dos profissionais da Saúde, antes que algum desavisado venha pensar ou escrever qualquer besteira. Faltam recursos, que deveriam vir dos impostos. E podemos dar exemplos na área da Educação e da Segurança Pública, só para começar.

Quanto a criticar ciclovias e outras ações que facilitem a vida dos que dependem do transporte público para se locomover, não me coloque no meio dos que criticam. Eu adoraria poder voltar a usar o transporte público para ir trabalhar, como fiz por boa parte da minha vida, ao invés de ter de perder tempo precioso dentro de um carro preso em um trânsito cada vez mais caótico e de quebra contribuindo para a poluição do ar. Ocorre que se hoje eu tiver de usar trem, ônibus e/ou metrô terei de “sair ontem para chegar amanhã”. Eu não sou rico, sou trabalhador como muitos outros. Os impostos que pago deveriam ser usados para que eu, assim como qualquer outra pessoa, pudesse ter um transporte público decente.

Se você acha que o problema não reside nos políticos e sim nas pessoas, cabe lembrar que quem elege os políticos são as pessoas. Existe um círculo vicioso que poderia ser quebrado se os políticos tivessem de usar os mesmos serviços que o restante da população que não pode pagar utiliza e nas mesmas condições, sem furar fila, sem poder escolher hospitais ou escolas, se tivesse de usar o transporte público, se não tivesse sua escolta particular. Garanto que começaria a melhorar rapidinho. Isso sim é ser igualitário.

Quanto a criticar as ações socialistas, comunistas, chavistas, bolivarianistas etc., vamos separar as coisas. É importante lembrar que volta e meia tentam emplacar no Brasil medidas que vão na direção daquilo que foi feito em vários países desde 1917 (refiro-me à finada URSS e seus satélites) e que até hoje sobrevivem em Cuba, Bolívia e Venezuela, para falar em países mais próximos do Brasil. Não posso entender que se seja favorável a silenciar uma empresa de comunicação por ela ser contrária ao governo, como ocorreu na Venezuela. Não entendo que se possa ser simpático à tomada das instalações da Petrobras na Bolívia, como foi feito e ficou por isso mesmo. Não se pode pensar que Cuba é um exemplo a ser seguido quando pessoas perdem a vida tentando fugir do país em busca de uma vida melhor, onde o paredón foi realidade. A doutrinação que tem sido feita nas escolas e nas faculdades brasileiras, tentando incutir na cabeça das pessoas que o Brasil deveria ir por esse caminho, é um escândalo. Isso eu não penso que seja um bom futuro para o Brasil.

Implantação de ciclovias faz parte de ações que podem contribuir para um futuro melhor, isso sim.